
Moer na Entressafra Vale à Pena? – Edição: 14
Essa é uma republicação de um artigo da MBF Agribusiness. antigo mas não obsoleto.
Os meses entre dezembro de um ano até março do ano seguinte, por muito tempo, caracterizaram o período de entressafra para os produtores de cana-de-açúcar no Centro-Sul. Na lavoura, este período representava o tempo de crescimento vegetativo para algumas variedades e de maturação (acúmulo de sacarose nos colmos) para outras, além de ser a época para a renovação ou expansão de canaviais para colheita de primeiro ano (18 meses). Já para a indústria, era hora de revisar máquinas e equipamentos, fazer novas instalações e planejar a logística da safra vindoura. Porém, nos últimos dois anos, a entressafra se descaracterizou. Isso porque muitas unidades continuaram a moagem neste período, emendando uma safra à outra, ou antecipando o início da nova temporada. Em 2008, para a maioria das unidades a razão para uma safra mais longa foi a necessidade de formação de caixa que, com a retração do crédito, devido à crise econômica mundial, ficaram desamparadas e não tinham mais meios para se financiar, já que acumulavam, por anos, um grande volume de dívidas. Houve outros casos, onde a expansão da indústria não acompanhou a expansão da lavoura, forçando a unidade a processar a cana no campo para recuperar parte do dinheiro investido. Ao final de 2009, depois de um ano atípico em relação às intensas chuvas que caíram entre julho e novembro (ápice da colheita da cana-de-açúcar) no Centro-Sul, muitas unidades da região optaram por, novamente, continuar trabalhando na entressafra, para poder cumprir contratos, gerar caixa e não amargar a perda de matéria-prima no campo. Para saber se valeu a pena continuar moendo fora de época nessas duas safras, é preciso analisar qual é a qualidade da matéria-prima neste período, quais os custos da colheita, rendimentos e eficiências agroindustriais registrados, além dos preços dos produtos acabados que, normalmente, são melhores no período de entressafra, caso contrário, os resultados seriam ainda piores. Clima – A cana-de-açúcar precisa de dois períodos climáticos distintos, sendo um para seu desenvolvimento vegetativo e outro para maturação. O engenheiro agrícola, Rodrigo Mário Corradini, explica que o período vegetativo da cultura requer tempo úmido e com altas temperaturas, características do verão na região Centro-Sul. No período de maturação, por sua

vez, a lavoura canavieira precisa de falta de água e temperaturas baixas, características do inverno na região já mencionada. Corradini lembra que, “durante a safra 2009/2010, os fatores climáticos fugiram muito aos dados históricos da região Centro-Sul”. Na cidade de Ribeirão Preto, maior polo produtivo de cana-de-açúcar no Brasil, por exemplo, choveu em junho de 2009, 62,3 milímetros (mm), segundo dados do Ciagro (Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Se fosse somada a quantidade de chuva do mês de junho dos anos de 2005 a 2008 na cidade, o total seria de 69,8 mm. Nos meses que se seguiram, a chuva não deu trégua. Em agosto, o índice pluviométrico registrado no ano passado foi de 124,9 mm, 272% a mais do que a soma dos meses de agosto de 2005 a 2008. Enfim, 2009 terminou sendo o mais chuvoso dos últimos cinco anos em Ribeirão, com um índice pluviométrico total de 1.597,3 mm. “O alto índice pluviométrico prejudicou a qualidade da matéria-prima entregue a indústria, favorecendo o crescimento vegetativo durante toda a safra e aumentando o ganho em fibra e água da cultura, porém, desfavoreceu a maturação da cana, estágio onde está metaboliza o açúcar”, afirma Corradini. O alto índice pluviométrico, apontado como conseqüência do fenômeno El Niño, aconteceu em toda a região Centro-Sul. O gráfico 1 demonstra claramente que, quando há excesso de chuva, a quantidade de açúcar acumulado na cana é menor. Em uma safra chuvosa, de 12 meses, como as últimas duas, a POL atingiu uma média de 12,8%.
Segundo Jair Cézar Pires, consultor agroindustrial da MBF Agribusiness, com a descaracterização do clima no período normal da safra em 2009, a qualidade da cana esteve baixa e a POL não ultrapassou 13 pontos porcentuais. Ainda, ao alongar a safra durante os meses de janeiro a março, a qualidade foi ainda pior, sendo que as perdas, em média, foram de 8%. No gráfico 2 está exemplificada a produção em Unicops de uma safra de 12 meses e uma safra com 8 meses de duração. É importante destacar que na safra considerada tradicional, sem excesso de chuva, a cana é sempre colhida dentro do período de maturação considerado ideal, gerando rendimento e eficiências dentro da média setorial, reduzindo assim as perdas de açúcar no processo agroindustrial. Em uma safra de 12 meses, a matéria-prima que é colhida entre janeiro e abril gera perdas, pois a cana ainda não atingiu o seu ápice de maturação e assim, a indústria recebe uma cana de baixa qualidade, gerando perdas para o processo produtivo.

Gráfico 1
vez, a lavoura canavieira precisa de falta de água e temperaturas baixas, características do inverno na região já mencionada. Corradini lembra que, “durante a safra 2009/2010, os fatores climáticos fugiram muito aos dados históricos da região Centro-Sul”. Na cidade de Ribeirão Preto, maior polo produtivo de cana-de-açúcar no Brasil, por exemplo, choveu em junho de 2009, 62,3 milímetros (mm), segundo dados do Ciagro (Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Se fosse somada a quantidade de chuva do mês de junho dos anos de 2005 a 2008 na cidade, o total seria de 69,8 mm. Nos meses que se seguiram, a chuva não deu trégua. Em agosto, o índice pluviométrico registrado no ano passado foi de 124,9 mm, 272% a mais do que a soma dos meses de agosto de 2005 a 2008. Enfim, 2009 terminou sendo o mais chuvoso dos últimos cinco anos em Ribeirão, com um índice pluviométrico total de 1.597,3 mm. “O alto índice pluviométrico prejudicou a qualidade da matéria-prima entregue a indústria, favorecendo o crescimento vegetativo durante toda a safra e aumentando o ganho em fibra e água da cultura, porém, desfavoreceu a maturação da cana, estágio onde está metaboliza o açúcar”, afirma Corradini. O alto índice pluviométrico, apontado como conseqüência do fenômeno El Niño, aconteceu em toda a região Centro-Sul. O gráfico 1 demonstra claramente que, quando há excesso de chuva, a quantidade de açúcar acumulado na cana é menor. Em uma safra chuvosa, de 12 meses, como as últimas duas, a POL atingiu uma média de 12,8%.
Segundo Jair Cézar Pires, consultor agroindustrial da MBF Agribusiness, com a descaracterização do clima no período normal da safra em 2009, a qualidade da cana esteve baixa e a POL não ultrapassou 13 pontos porcentuais. Ainda, ao alongar a safra durante os meses de janeiro a março, a qualidade foi ainda pior, sendo que as perdas, em média, foram de 8%. No gráfico 2 está exemplificada a produção em Unicops de uma safra de 12 meses e uma safra com 8 meses de duração. É importante destacar que na safra considerada tradicional, sem excesso de chuva, a cana é sempre colhida dentro do período de maturação considerado ideal, gerando rendimento e eficiências dentro da média setorial, reduzindo assim as perdas de açúcar no processo agroindustrial. Em uma safra de 12 meses, a matéria-prima que é colhida entre janeiro e abril gera perdas, pois a cana ainda não atingiu o seu ápice de maturação e assim, a indústria recebe uma cana de baixa qualidade, gerando perdas para o processo produtivo.

Gráfico 2
Como ilustrado no gráfico 2, comparativo de duas safras, uma com duração de oito meses e outra com 12 meses, pode-se verificar que na safra considerada como período normal (oito meses), há maior concentração de açúcar, atingindo uma POL média de 14,19%. Logística – Outro fator que Pires, da MBF Agribusiness, aponta como grave para a colheita na entressafra é o aumento dos custos devido à ineficiência do processo CCT (corte, carregamento e transporte), atrapalhado pelas chuvas e pela indisponibilidade de mão-de-obra, já que muitos rurícolas costumam migrar para outras regiões atrás de outras atividades, ou mesmo, que vão para regiões como o nordeste onde é período normal de safra. Para obter bons rendimentos e eficiências industriais na produção de açúcar e etanol, é preciso uma continuidade do processo, o que não ocorre nesta época, já que a cana, com qualidade reduzida desde o canavial, demora a ser processada, o que aumenta as perdas. Outro fator é que, a colheita durante o período chuvoso, danifica as soqueiras da cana, o que reduz significativamente a rebrota e, consequentemente, a longevidade do canavial. Mesmo com todos esses problemas ocorrendo, há custos agroindustriais que são fixos, encarecendo o custo final dos produtos acabados, o que pode variar de uma unidade à outra, de acordo com a gestão empregada, mas sempre acima da média em sua maioria, e acima dos preços de venda, salvo em períodos atípicos, como nos meses entre julho a novembro da safra 2009/2010. De acordo com Jair C. Pires, “são justamente os custos fixos que prejudicam o resultado da moagem neste período”. Para exemplificar, foi realizada uma simulação de moagem na tabela 1, onde há a produção de uma safra em período normal e outra em período longo. Entende-se por safra de período normal a moagem realizada entre abril e dezembro de um ano e a safra longa compreende ao período de abril de um ano a março do ano seguinte. A tabela 2 que considera apenas as despesas operacionais de colheita, processamento da cana e as despesas com comercialização dos produtos acabados. Assim, todos os custos com renovação/ampliação de canavial, reforma de máquinas e equipamentos (indústria e agrícola), não estão contemplados.


A receita líquida engloba todo açúcar e etanol produzido durante os períodos em análise, sendo que, para uma safra mais longa, essa receita é maior devido ao maior volume de moagem. A única produção que diverge nos diferentes períodos analisados é a de etanol, já que a produção de açúcar é igual para as duas opções. Estas variações de produção são observadas na tabela 1. O custo variável por tonelada de cana sofre alteração devido a qualidade da cana que é menor para uma safra mais longa, embora o valor do quilo de ATR seja o mesmo para a safra, pois o CONSECANA calcula a média anual através dos valores e volumes de comercialização, que contempla qualidade menor entre dezembro e março. Por outro lado, se a opção for calcular o custo por UNICOP produzido, o custo variável praticamente não sofre alteração. Em geral, admite-se que vender na entressafra é sempre mais vantajoso, porém, essa realidade se aplica efetivamente quando o estoque produzido no período normal de safra é comercializado. No caso de empresas que produzem durante a entressafra e os comercializa ao mesmo tempo, mesmo com os preços mais altos do mercado, não há vantagem, pois os custos para essa produção acabem se elevando proporcionalmente. Na opção de uma safra longa, o resultado seria um aumento no endividamento em torno de R$ 6,2 milhões, já que a produção e comercialização no período de entressafra não são favoráveis, uma vez que os desembolsos totais, incluindo a diferença de ATR computada, representam 200% da receita líquida. Conclusões – Analisando tudo isso, pudesse concluir que, as desvantagens sobrepõem muito às vantagens de permanecer colhendo no período de entressafra. Além dos prejuízos já explicados, “o setor Atualize MBF – 5 agrícolas precisa reorganizar todo seu planejamento de corte dentro do seu perfil varietal para atender a indústria. Tal atividade faz com que a lavoura se predisponha para o próximo período de safra em ser colhida fora de época, novamente, criando um problema para esse produto caso a usina passe pelo processo normal de entressafra”, explica Rodrigo M. Corradini. As únicas vantagens vistas pelos especialistas em moer na entressafra são a não paralisação da geração de recursos financeiros para pagar as despesas imediatas e a possibilidade de realizar vendas de produtos a preços melhores. “Dificilmente se obterá resultado operacional positivo”, diz Pires. “É importante renegociar os títulos a pagar, mesmo os necessários à operação cotidiana. Trata-se de um período, onde horas extras e excesso de funcionários não podem ser aceitos”, completa ele. “Na pior das hipóteses e, caso não haja nenhuma alternativa, deve-se recorrer a venda antecipada de produtos para manter a empresa em plena atividade. Mas é importante lembrar que venda antecipada não é bom negócio para a Usina”, afirma Pires. Ele crê que pouca coisa pode ser feita para que se obtenham melhores resultados na entressafra. Porém, em casos onde a empresa realmente tenha necessidades urgentes de caixa, ele afirma que é importante aproveitar os raros dias em que é permitida uma colheita sem maiores prejuízos às soqueiras, vender o estritamente necessários para os pagamentos diários e manutenção das atividades, além de uma adequação da quantidade de máquinas, equipamentos e funcionários em atividade, já que a eficiência é reduzida e, portanto, não necessita da mesma estrutura mantida durante o período de abril a dezembro.
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‘Se quiser viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas.
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