
Falta Cana-de-Açúcar para Garantir Sucesso do Etanol – Edição 17
Essa é uma republicação de um artigo da MBF Agribusiness. antigo mas não obsoleto.
Falta cana-de-açúcar para garantir sucesso do etanol Sexta-feira, 10 de junho de 2011 fornecendo atualizações diárias a executivos do Agronegócio. Reunida no terceiro Ethanol Summit, elite do setor sucroenergético aponta a falta de investimentos na lavoura como empecilho para sucesso do etanol e outros derivados da cana.
Aconteceu em São Paulo, nos dias 6 e 7 de junho, a terceira edição do Ethanol Summit. O evento, realizado pela União da Indústria Canavieira (Unica), reuniu as principais lideranças do setor sucroenergético, para discutir o presente e o futuro da cana-de-açúcar e seus derivados, tendo como cenário a economia de baixo carbono. O etanol é visto pelas empresas nacionais e estrangeiras como uma das melhores alternativas de combustível limpo e renovável, que dividirá com petróleo e carvão, a matriz energética mundial nos próximos 30 anos, porém, levando vantagem na questão ambiental. A prova do potencial do etanol e da biomassa de cana é o fato de empresas petroleiras estarem realizando grandes investimentos no setor. Será? Segundo Vinod Khosla, presidente da Khosla Ventures, estes investimentos não são tão robustos como poderiam ser, pois parece que as empresas não acreditam realmente nos biocombustíves. Khosla também afirma que não há pesquisas, dentro dessas empresas em novas tecnologias, que permitam desenvolver etanol a partir de fontes diversas. Por outro lado, os chefes de grandes empresas petrolíferas se defendem, apresentando a soma dos investimentos realizados e que ainda estão por fazer no setor. No caso da Shell, como afirmou Mark Gainsborough, vice-presidente de Portfólio Estratégico e Energias Alternativas da empresa, US$ 1,2 bilhão estão sendo investidos em pesquisa e desenvolvimento para a área. Miguel Rossetto, presidente da Petrobras, não há dúvida que os biocombustíveis terão espaço representativo no futuro. De acordo com ele, R$ 400 milhões serão investidos em biocombustíveis. Apesar da necessidade de pesquisas e inovações tecnológicas para aperfeiçoar processos, criar novos produtos, melhorar a qualidade do etanol de cana e buscar novas alternativas através de palha, bagaço e outras culturas, os players do setor ressaltaram uma necessidade mais premente: investir no campo. Sem cana-de-açúcar não há etanol, nem tampouco açúcar – cujo consumo cresce cerca de 2% ao ano – o que, para diversos participantes do Ethanol Summit 2011 é uma preocupação. O presidente da Unica, Marcos Sawaya Jank, afirmou na abertura do evento que em 2015, o consumo de etanol sairá dos atuais 40 bilhões de litros, para 61 bilhões de litros. Em dez anos, a perspectiva é de o consumo atingir 85 bilhões de litros. A área agricultável do Brasil é de 85 milhões de hectares. A cana ocupa hoje, 2,6% desta área, totalizando 8,7 milhões de hectares. Isso significa que em dez anos, considerando os rendimentos atuais das empresas sucroenergéticas, a área plantada com cana precisaria dobrar de tamanho e, ainda assim, seria insuficiente para sustentar a frota doméstica de carros flex com etanol. Luciano Coutinho, do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), que os desafios do setor no curto prazo são grandes e é preciso ampliar

urgentemente, a capacidade produtiva do setor. Coutinho também afirmou que o BNDES está pronto para financiar o setor e que, só em 2010, R$ 7,8 bilhões em investimentos para a cadeia sucroenergética. O investimento no campo ficou esquecido após a crise de 2008 quando, as já endividadas usinas, destilarias e açucareiras perderam investidores, que estavam retraídos no momento. O setor que crescia, desde 2003, a taxa em torno de 10% ao ano, ficou congelado. Passada a crise, os investimentos estrangeiros voltaram na forma de aquisições, fusões, enfim, um movimento de consolidação e de investimento em brown fields, ou seja, na indústria. Enquanto isso, há poucos projetos de green field – que seriam necessários para aumentar a capacidade da produção – e de expansão e melhoria nas de lavouras. Na realidade, a expansão não seria tão necessária se houvesse melhor produtividade nos canaviais que, com a falta de dinheiro, foram abandonados, não recebendo tratos culturais e renovação. “O potencial dos canaviais precisa de reciclagem”, afirmou Claudio Piquet Carneiro Pessoa de Barros, diretor da Glencore Brasil. Para Ricardo Castello Branco, diretor de etanol da Petrobras Biocombustíveis, falta investimento em produtividade. Segundo ele, a empresa tem capacidade, hoje, para moer 100 milhões de toneladas, mas falta cana para ser moída. No início desde ano, os brasileiros provaram o gosto amargo da pouca oferta de etanol. Como resultado, o produto ficou mais caro na bomba, elevou o consumo de gasolina e fez o país importar dos Estados Unidos o etanol de milho e uma reserva de gasolina. O cenário fez com que o governo resolvesse regular o setor, entregando a tarefa para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustívies (ANP). Segundo Haroldo Lima, presidente da instituição, o abastecimento do produto deixa a desejar e por essa razão, ele e um grupo de especialistas já informou a presidente Dilma Rousseff sobre a necessidade imediata de investimento. A falta de investimento, além de comprometer o suprimento do mercado interno, frustra, o que hoje é um distante sonho: exportar etanol em grande quantidade para os mercados mundo a fora.
As oportunidades de comércio batem à porta, como lembrou Jacyr Costa, presidente da Açúcar Guaraní: em 2022, os Estados Unidos vão precisar, de acordo com determinação legal, de 25 bilhões de litros de combustível avançado, classificação que o etanol de cana obteve da Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA em inglês). A Europa também tem dificuldades e um território que limita o crescimento de qualquer cultura. Durante a crise da última entressafra, o governo chegou a culpar os produtores por fazerem mais açúcar do que etanol, julgando-os descomprometidos com o abastecimento do país. Este ponto foi veementemente rebatido, pois a destinação de cana para produção de açúcar na safra 2010/2011 – que foi de 46%, segundo o Primeiro Levantamento de Acompanhamento da Safra de Cana, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) – foi somente 2,3% maior do que na safra anterior. Barros, da Glencore Brasil, afirma que em 2012, estes investimentos voltarão. Como exemplo, Vasco Diaz, da Raízen, afirmou que sua empresa tem três projetos green field na manga. Os desafios do setor não param por ai. Entre outros pontos amplamente citados durante todo o evento estão garantir a competitividade do etanol e torna-lo uma commodity. Para tornar o etanol uma commodity é necessário padronizar o produto e criar condições para que ele circule livremente, sem barreiras tarifárias ou não. Para Géraldine Kutas, assessora sênior do presidente da Única para assuntos internacionais, as políticas de proteção jogam contra a popularização do etanol no mundo e a segurança energética mundial. Quanto a tornar o etanol competitivo, as preocupações giram em torno de três fatores: políticas governamentais que estabilizem o cenário, garantindo tranquilidade para investidores, melhorias de logística e redução nos custos de produção e na carga tributária. Mesmo com muitos fatores a serem vencidos, o mundo continua a crer no futuro dos biocombustíveis e o Brasil sabe que, se rumar no caminho certo, convergindo forças em prol do etanol, será uma potência inegável no futuro, garantindo segurança energética com qualidade, rentabilidade e respeito ao meio-ambiente. Eis o desafio: remar todos para o mesmo lado.

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