
“Governo Precisa dar Mais Atenção ao Setor Sucroenergético”, diz Mascarim – Edição: 19
Essa é uma republicação de um artigo da MBF Agribusiness. antigo mas não obsoleto.
Executivo afirmou que para o setor sucroenergético deslanchar, governo precisa fazer medidas condizentes com as necessidades da indústria do etanol
No final de 2011, Tarcísio Angelo Mascarim, presidente do Apla (Arranjo Produtivo Local do Álcool) e do Simespi (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas, Fundições e Similares de Piracicaba e Região), recebeu a equipe do Atualize MBF para uma conversa sobre os principais problemas e desafios que o setor sucroenergético vinha enfrentando e que, traziam consequencias para a indústria de base.
Mascarim afirmou na ocasião que, nos últimos nove anos o governo não vinha dando a atenção que o etanol merece. Segundo ele, a prova disso estava nas medidas tomadas logo após a crise de 2008, quando montadoras e linha branca receberam diversos benefícios, e a indústria do etanol ficou esquecida.
De acordo com ele, até aquele período, o setor sucroenergético vinha em plena ascensão, com investidores estrangeiros injetando grandes somas de dinheiro e financiando a expansão das empresas. De repente, com a crise, o dinheiro parou de entrar e as unidades ficaram endividadas, sem linhas de crédito disponíveis para se manter. O resultado para a indústria de base foi a queda brutal de encomendas.
Mascarim disse que em 2007, a Dedini – empresa na qual trabalhava na época – faturou R$ 1,8 bilhão e projetava atingir R$ 3 bilhões no ano seguinte. “Com a crise que deu em setembro, chegou, no máximo, perto de dois bilhões. Houve uma quebra sensível de todas as expectativas. O pessoal que tinha projetos em andamento parou; aqueles que queriam crescer, se seguraram para ver o que iria acontecer. E o governo não tomou nenhuma medida para poder agilizar, para dar mais suporte financeiro ou alguma coisa que pudesse sustentar o potencial do setor. E ainda hoje as empresas se ressentem da crise de 2008”, afirmou o executivo.

Dentro das usinas, um dos resultados da crise foi a falta de investimento na renovação das lavouras, o que levou – juntamente com diversos problemas climáticos – a uma redução da quantidade de cana e, consequentemente, de etanol e de açúcar, especialmente de etanol hidratado.
No período da crise, a indústria de base acabou demitindo muitos empregados e, segundo Mascarim, “hoje deve faltar em Piracicaba uns dois mil empregos nesse setor. Quem dirá em outros locais?!”.
Isso mostra que o setor ainda não se recuperou totalmente e a indústria de base está faturando o que faturava em 2007, antes da crise. “Não aumentou nada. A produção caiu mesmo!”
Mas apesar dos problemas, a indústria de base continua confiante no setor sucroenergético. Ao menos foi isso o que se notou na última edição do Simtec (Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia e Energia Canavieira). Para Mascarim, o potencial do o setor sucroalcooleiro é perceptível a qualquer pessoa, mas é o governo quem não está olhando com a devida atenção a ele.
“Em 2005 havia um plano do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) para chegar em 2010 com um bilhão de toneladas de cana. Hoje, em 2011, estamos com 570 milhões de toneladas, mais ou menos. Não houve nada!”, afirmou o presidente do Simespi e do Apla.
Mascarim disse que as empresas grandes do setor têm planos de expansão, tal como a Raízen, que pretende dobrar sua capacidade, e a Odebrecht. Ele citou também a Petrobras, mas ponderou que a estatal não é muito favorável ao etanol, porque “a cada litro de etanol que se consome, é um litro a menos de gasolina consumido”.
Na ocasião da entrevista, o executivo afirmou que o que faltava para fazer o setor sucroenergético deslanchar era o governo fazer medidas que fossem condizentes com as necessidades da indústria do etanol, especialmente para impedir a falta do produto. “Quem vai comprar etanol do Brasil, mesmo que tenha vontade de comprar, se vê essa instabilidade de produção? Falta álcool para o próprio consumo do Brasil!”
Com a crise que se abateu nos últimos anos, o setor metalmecânico passou a ter problemas para financiar sua produção e a compra de novos equipamentos, não só com capital próprio, mas com o capital conseguido nas instituições de crédito, que restringiram suas operações e o volume de dinheiro.
Outro inimigo para a recuperação do setor metalmecânico e da indústria em geral é o dólar baixo, que limita as exportações e impulsiona a compra de produtos de outros países. O presidente do Simespi destacou que, o produtor nacional, que já tem um produto caro, fica ainda mais sem chances de exportar, com o dólar baixo. Além disso, o produto estrangeiro,

apesar dos impostos, consegue chegar ao país, com preços mais favoráveis.
Mascarim também apontou outro problema: “O Brasil precisa aprender a fazer as coisas”. Ele afirma que a boa parte da indústria nacional não consegue produzir usando recursos disponíveis integralmente no país. Como exemplo, ele falou sobre a indústria automobilística. “Em 40 anos que o Brasil tem a produção de carros – que começou no tempo do Jucelino, quando ele abriu o mercado para as montadoras – a nacionalização da produção é até hoje de 60%.”
Uma explicação para que isso ocorra é que, ainda é mais barato trazer peças de fora para fabricar o produto final, o que barateia a mercadoria e aumenta a competitividade.
A realidade vivida pela indústria é também causada pela altíssima carga tributária, auxiliada pelos custos com mão de obra.
Investimento – Um dos resultados dos problemas vividos pelo setor foi a chegada – ainda mais forte – dos investidores estrangeiros. Tarcísio Mascarim crê que ”todo investimento é bem vindo. Se for para fazer a produção aqui no Brasil devemos aceitar, porque ele pode dar um impacto muito grande no emprego. O que não pode é o dinheiro que vem para especulação financeira. O dinheiro que vem para investimento temos que adotar e agradecer. O setor pode crescer muito com esses grandes grupos vindos paracá, pois assim dá confiabilidade e condições de poder exportar também. Usinas individuais haverão poucas… elas serão absorvidas por esses grandes grupos. E aí vamos transformar o álcool numa commodity, tal como o açúcar é. Ai o Brasil vai para frente!”
Nesta temporada, o Centro-Sul terá uma entressafra um pouco mais longa do que o normal, porém, segundo Mascarim, não haverá reformas além das tradicionais, que anualmente são necessárias na parte da indústria. Os investimentos estão sendo direcionados, especialmente, para a renovação e expansão dos canaviais. E Tarcísio Mascarim acredita que o setor precisa se unir “Unica, Ceise, FIESP, para fazer continuar aquilo que começou em 2008 e parou, ou seja, a expansão…. atingir um bilhão de toneladas de cana, para poder aí ter etanol. Sem cana não se faz nada.”
O executivo afirmou que “terra tem, muita gente alega que não, que vai diminuir a plantação de alimentos. O Brasil tem área para alimentos, pasto, tudo. A cana tem hoje sete milhões de hectares, quase nada perto da área do Brasil.”
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‘Se quiser viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas.
Albert Einstein

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