Janeiro Branco:até onde vale a dor da busca pelo sucesso?

Matéria especial desse mês com o tema Janeiro Branco.

O filme “O Vendedor de Sonhos”, baseado na obra de Augusto Cury - famoso médico psiquiatra, professor e escritor brasileiro, apresenta diversas reflexões sobre o cotidiano. Para quem não assistiu, em espécie de spoiler bem-intencionado, há uma cena da qual o personagem principal atrai um grupo de empresários para uma suposta palestra sobre liderança em um cemitério (isso mesmo!). O foco do seu discurso é salientar a forma errônea da busca incessante pelo sucesso financeiro que rege a cultura do capitalismo, como menciona na história. Sempre em tom retórico, ele mostra a todos como reconhecer uma pessoa bem-sucedida. Sabe como? Perguntando quem sofre de dores de cabeça, estresse, ansiedade, etc. Assim, ele propõe a reflexão: qual de vocês será o mais rico do cemitério?

Do Brasil ao mundo: ansiedade, depressão e conscientização

O site EBC - Agência Brasil, publicou no mês de setembro de 2017 que em todo Brasil, 18,6 milhões de pessoas (9,3% da população) sofrem com distúrbios relacionados à ansiedade. Já 11,5 milhões (5,8% do total) são afetadas pela depressão e segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca o nosso país no topo da lista de maior prevalência da doença, na América Latina.

Cabe destacar o meio corporativo, que é um dos ambientes que merecem grande atenção. Em uma publicação no site das Nações Unidas em outubro de 2017, segundo a OMS, um ambiente de trabalho negativo pode levar a problemas de saúde física e mental de trabalhadores, além do uso abusivo de drogas ou álcool, faltas e perda de produtividade.

Globalmente, mais de 300 milhões de pessoas sofrem com a depressão, principal causa de incapacidade. Mais de 260 milhões vivem com transtornos de ansiedade. Muitas dessas pessoas vivem com ambos os transtornos.

“A depressão e os distúrbios de ansiedade são transtornos mentais comuns que têm impacto em nossa habilidade de trabalhar e de trabalhar de maneira produtiva”, disse a agência da ONU.

Estudo recente liderado pela OMS estimou que os transtornos depressivos e de ansiedade custam 1 trilhão de dólares à economia global a cada ano em perda de produtividade.

O panorama que envolve a saúde mental mobiliza a sociedade brasileira. Desde janeiro de 2014, acontece a campanha “Janeiro Branco”, projeto idealizado por Leonardo Abrahão, inspirado no Outubro Rosa. Uma campanha dedicada a colocar os temas da Saúde Mental em máxima evidência no mundo em nome da prevenção ao adoecimento emocional da humanidade - como diz no site institucional.

A palavra do profissional

A psicóloga (CRP: 06/64321) pós-graduada em Gestão de Pessoas, Mara Sarti, ressalta que “na última década a pressão por resultados imediatos e a pouca atenção ao fato de que esse cenário torna as pessoas mais inseguras, ansiosas, depressivas e consequentemente menos produtivas vem aumentando as estatísticas de transtornos psicológicos e psiquiátricos como a depressão e o transtorno de ansiedade.

Não é novidade para ninguém que toda organização precisa de profissionais comprometidos e engajados, mas um ambiente hostil pode gerar ansiedade que vem evoluindo e tornando cada vez mais comum também as crises de pânico, sensação de desgaste e cansaço constantes e sentimento de vazio (a depressão)”.

Mara enfatiza que a depressão ocupa o 2º lugar em ocorrência em todo o mundo e completa: “ela desencadeia outros estados emocionais como estresse, hostilidade, intolerância às críticas, necessidade de poder, inveja, o que pode ser prejudicial ao ambiente corporativo. Já a ansiedade pode gerar quadros de alcoolismo, dependência química, negatividade e sensação de perseguição.

Pressão, competição, busca por resultados sempre irão ocorrer no ambiente organizacional e irão gerar sofrimento emocional. O problema é quando a empresa não prioriza ou não se dá conta destas questões e deixa de encontrar maneiras de minimizar estes efeitos”.

Assim, “as empresas estarão fadadas a terem profissionais talentosos de sucesso, mas doentes, como ressalta o filme “O Vendedor de Sonhos”, com dores de cabeça, sem tempo para mais nada que não seja trabalho e resultados, que com o tempo terão deixado de ser produtivos e talentosos”.

Mara conclui que “os valores que estão sendo vendidos têm confundindo competência profissional com ausência ou controle de sentimentos e isso é um risco. Pessoas enlouquecidas geram empresas doentes e isso não tem nada a ver com talento”.

 Até onde vale a dor da busca pelo sucesso?

Para amenizar os riscos na tomada de decisão, ter as informações mais precisas é o grande diferencial na assertividade. Dessa forma, nenhuma época se demonstrou tão promissora quanto a atual, pois vivemos na Era da Informação.

De fato, é difícil contradizer a tendência em aplicar esforços e investimentos para obter melhores resultados, porém o que não é dito, é o detalhe de que com os avanços tecnológicos e técnicos, a capacidade do ser humano de lidar com tantas informações põe a prova sua saúde de maneira muito arriscada, a ponto de cada vez mais os profissionais tornarem-se conectados com o trabalho e menos com o descanso, que é imprescindível para seu desenvolvimento e manutenção de seu desempenho.

Sobre o excesso de informação, em 2014 - primeiro ano do Janeiro Branco - uma publicação na página da antiga Globo Ciência (atual “Como Será?” da Rede Globo), já abordava o tema: “uma edição de domingo do jornal The New York Times, por exemplo, contém mais informação do que um cidadão do Século 17 recebia ao longo de toda a sua vida. Parece exagero, mas estão em circulação no planeta mais de 100 mil revistas científicas. Fora isso, quem vive nas cidades grandes é bombardeado o tempo todo por várias informações, sejam visuais, ou sonoras”.

Ainda na publicação, com a participação do médico psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, do Ambulatório de Transtornos Ansiosos do Hospital das Clínicas, pertencente à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), diante desse contexto, “o excesso de informações, processada acima da capacidade neuronal, pode levar à sobrecarga das conduções elétricas no cérebro e ao estresse cognitivo, quando muito intenso”. O médico relata que “o aumento excessivo de sons, imagens e a leitura por horas a fio, sem descanso, ou pausa do sistema sensorial, pode levar à exaustão do Sistema Nervoso Central (SNC), ou à síndrome de burnout, com o aparecimento de sequelas”.

Portanto, a busca incessante pelo sucesso profissional pode custar caro. Em analogia, se doer a cabeça doerá no bolso. O prejuízo é uma vela com dois pavios, de um lado os gastos iminentes com tratamento e do outro a queda considerável da produtividade que pode chegar a zero. Reflitamos: até onde vale a dor da busca pelo sucesso?

Mas, afinal, qual sucesso?

Em uma publicação pelo site da Exame, Fernando Mantovani, aborda o termo de uma forma muito interessante que vale ser compartilhada. O artigo ressalta os inúmeros conceitos e significados que se tem por sucesso. Entre eles: ter êxito em algo, um bom resultado, triunfo, etc. Mas, de forma a concatenar as faces do verdadeiro sucesso, cita o médico e filósofo alemão Albert Schweitzer: “O sucesso não é a chave para a felicidade. A felicidade é a chave para o sucesso. Se você ama o que faz, você será bem-sucedido”. E completa: estudos comprovam que uma pessoa que faz o que gosta e trabalha feliz, é mais produtiva, criativa e inovadora.

Porém, o que vemos na sociedade é um ponto de vista errôneo sobre o termo, onde sucesso é entendido equivocadamente em conseguir coisas grandiosas. E quando a pessoa não consegue algo tão expressivo, se apega à conclusão de não ter alcançado o sucesso e adoece. Assim se depara com os quadros de angústia, baixa autoestima, depressão, ansiedade, etc.

De forma a completar a citação de Schweitzer, cabe uma de Gandhi: “Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia”. Com certeza, quando você harmoniza esses pilares para a felicidade e ama o que faz, ser intitulado como bem-sucedido será apenas um detalhe.

Antes do amanhã, tem o hoje

Em novembro de 2017, a Revista Galileu perguntou aos seus leitores o que fazem para cuidar da saúde mental. Exercícios físicos, leitura (não digital), arte e meio ambiente, cinema e música (ouvindo ou tocando) foram os destaques das indicações.

Outro meio de equilíbrio que vem ganhando destaque é a cultura Zen. Regida pela prática de meditação, a cultura está em ascensão e vem conquistando público. A resposta positiva às adversidades da rotina profissional é um grande atrativo, mas como toda prática, requer a aplicação correta das técnicas e disciplina.

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Fonte: CELSO WILLIAN PALMA - Marketing

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